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Uma cidade, um livro - uma nova seção aqui no blog! :)

ANO NOVO, SEÇÃO NOVA PARA RESOLUÇÕES ANTIGAS! :)

Entra 2019 e, com ele, a decisão de conseguir organizar escritos com um público amplo - vocês, é claro. Muitos escritores (e aspirantes a) devem se identificar com a dificuldade em transpor a enorme fluência mental para algo estruturado, e, mais, que pareça dotado de algum apelo para a interlocução. Esse foi um dos motivos para hesitar quanto à continuidade do blog, por mais que sempre tenha pensado que dar continuidade a um projeto mais público de escrita possa ser muito enriquecedor.

Diante da variedade de assuntos que gostaria de abordar por aqui (com diálogo, é claro), eis a seção Uma cidade, um livro, onde trato de obras que ocorrem (ou foram escritas) em cidades que visitei. Quem sabe isso não se converte em um estímulo para conhecer cada vez mais locais, e também imergir nas culturas ali existentes?

Essa reflexão veio, sobretudo, em visitas a alguns museus de 's-Hertogenbosch, mais conhecida como Den Bosch, cidade a uma hora de Amsterdã, na região de Brabant, e mais conhecida como lar do pintor Hieronymus Bosch (um dos meus favoritos). Uma visita despretensiosa ao (excelente) Museu de Arte de Nord-Brabant me trouxe diversos pensamentos sobre como meu conhecimento sobre história do norte euroupeu era fraco, em termos de fatos, referências ou mesmo grandes nomes da região (cujo expoente artístico mais famoso é, muito possivelmente, o Van Gogh).

Por isso, o post de hoje inaugura uma sequência de leituras sobre as seguintes cidades: Amsterdã, Den Bosch, Colônia, e Paris, os pontos de parada de minha última viagem. Quem sabe, num médio-longo prazo, a gente não levante nomes, e, através desses textos e pensamentos, vislumbre um pouco mais sobre regiões e visões de mundo pouco trabalhadas no Brasil (onde ainda pecamos numa ênfase a referências sobretudo anglófonas, francófonas, e europeias do oeste em geral).

HUIS CLOS EM AMSTERDÃ: O DIÁRIO DE ANNE FRANK

Ao chegar em Amsterdã, tinha o total de uma visita programada de antemão, na Casa de Anne Frank. Nada mais natural do que começar esta nova coluna com um depoimento que se tornou conhecido ao redor do mundo por motivos trágicos. O Diário de Anne Frank traz, também, uma outra área de interesse para mim: os diários pessoais (que possivelmente ganharão uma luz própria no blog?), e suas questões de organização e edição (sobretudo quando realizados por terceiros). Li pela primeira vez adolescente, e impossível não refletir como uma jovem igual a mim teve chances negadas na vida, encerrada de maneira tão breve. Eu mesma mantenho diários até hoje, e vez por outra perpassa a consideração de que uma vida interrompida significaria muitos volumes de menos na estante, hoje.

Anne Frank nasceu em 1929, em Frankfurt-am-Main; com a ascensão de Hitler à posição de chanceler, em 1933, a família Frank se muda para Amsterdã. O diário original veio como presente de aniversário, dos pais, ao completar 13 anos - uma idade particularmente propícia para início de diários (Helena Morley, em Minha vida de menina, começa o seu mais ou menos na mesma época). Poucas semanas depois, Margot, sua irmã 3 anos mais velha, recebe uma convocação para campos de trabalho, precipitando a ida da família para um esconderijo: o pai, Otto, o preparou nos fundos da sede de sua empresa, no centro da cidade. (É interessante que, embora em português o esconderijo seja denominado Anexo, o termo holandês original é "Achterhuis", literalmente "casa de trás" - que termo rico em sentidos!) Ali, os Frank, juntamente com a família van Pelt e, posteriormente, o dentista Fritz Pfeffer, permaneceram entre 1942 e 1944, quando foram delatados (até hoje de maneira não explicada) e posteriormente levados a campos de concentração. Apenas Otto sobreviveria à guerra.

Uma das funcionárias de sua empresa, e colaboradora das famílias escondidas, Miep Gies, guardou os originais de Anne e os entregou ao pai da menina posteriormente. O diário foi publicado pela primeira vez em 1947.

O primeiro diário de Anne (Fonte)

Uma espiadela em uma das páginas do diário (Fonte)


Amsterdã, por motivos óbvios, não é muito descrita nas páginas de Anne. No entanto, não apenas suas descrições detalhadas registram um momento belicoso, como nos fornecem subsídios para pensar dinâmicas próprias ao lugar: em parte, a cidade foi escolhida pela família Frank pelo seu histórico de tolerância à variedade de fé; em parte, percebe-se o cruzamento de origens e percepções, entre visões germânicas, holandesas e judaicas.

Até mesmo a opção por se esconder dentro da cidade, num edifício comum, parece dialogar com práticas mais antigas do município: durante o século XVIII, diante da proibição de exibição pública de fés que não a protestante, outros fiéis passaram a construir igrejas dentro de suas residências, numa exacerbação muito interessante dos direitos privados. (Ainda hoje, a igreja de Nosso Senhor do Sótão está totalmente conservada e pode ser visitada - um dos pontos altos da minha curta estadia na cidade) Trata-se, em certo sentido, de uma exploração do espírito local (fortemente abalado pela expansão nazista) a partir de uma situação de confinamento, onde as pessoas procuraram manter, ao máximo possível, noções de rotina, normalidade, e referenciais com o mundo externo, como o conheciam.

Então a escolha de hoje tem a ver com o confronto de um Zeitgeist difícil e a própria reputação de Amsterdã, personagem formada na ausência, abalada em sua tradição de tolerância e pujança, desenvolvida durante o Período de Ouro do país.

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A Casa de Anne Frank: hoje um museu (Fonte)

A própria Anne começou a reler o diário, em 1944, para pensar em publicá-lo no pós-guerra. A ela são atribuídas versões A e B de redação. A versão C remete ao texto organizado pelo pai; e em 1995, a editora Mirjam Pressler estruturou uma versão D. A versão brasileira do livro foi lançada em 2003; a Record prometeu uma edição completa das obras, além de uma versão em quadrinhos, para 2017, mas não achei dados se de fato já foi comercializada.

Hoje, a Casa de Anne Frank não só oferece visitas (a compra é online) como um grande material de contexto sobre Anne, a família Frank, êxodos judaicos durante a guerra, reconstituições dos fatos, análise desse e outros relatos, testemunhos do campo de concentração...

Em tempo: pesquisadores avaliam que Margot também redigiu um diário, que se perdeu. O paradeiro desses escritos certamente suscita hipóteses...

Comentários

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